Frei 1
– Encontramos um ambiente de luxo, de opulência e de requinte. Este espaço está relacionado com a ação e com as personagens. O espaço, embora interior, permite a comunicação com o exterior, através de duas janelas rasgadas, que deixam ver o eirado e o rio Tejo. Através das janelas, entra também a claridade. Temos pois um espaço cheio de luminosidade e colorido, o que sugere alegria e leveza. É neste espaço que Manuel e Madalena vivem felizes o seu amor. O espaço revela igualmente traços do carácter das personagens que nele se inserem. O luxo, a opulência, o requinte remetem para personagens que valorizam o bem-estar físico, os bens materiais.
ACTO II
– O requinte e a elegância deram lugar à melancolia e à austeridade. O espaço torna-se muito fechado – não há janelas e as portas e a varanda estão tapadas por reposteiros. Não há contacto com o exterior, nem entra a claridade. O ambiente é escuro, pesado e triste. Parece que «grades invisíveis» se formaram à volta da família, conduzindo-a inevitavelmente para um fim trágico. Mesmo que tentem fugir, não é possível. Por essa razão, Madalena não queria regressar à sua anterior casa, à casa que pertenceu a D. João de Portugal. Seria uma ameaça ao seu amor e à sua felicidade. O cenário deste ato adequa-se ao carácter de D. João de Portugal, também ele inflexível, austero, de princípios rígidos e melancólico.
ACTO III
– A austeridade é total. O espaço fechou-se completamente. Todos os objetos remetem para o fim das personagens: a tomada do hábito e a morte (física e psicológica). O espaço não apresenta um único objeto que remeta para uma vida terrena, material. O «despir» do espaço também tem a ver com o despojamento dos bens materiais –Manuel e Madalena têm que deixar tudo o que os ligava a uma vida terrena, material, de felicidade. É como se «morressem» para a vida. As porcelanas, os charões, as sedas, os veludos, a prata são substituídos por algodão, madeira e chumbo. É o peso de uma vida de resignação,