Francisco de Holanda
Francisco de Holanda é uma figura controversa que domina o séc. XVI português. Teve o mérito de ter sido o primeiro que em Portugal escreveu sobre bellas-artes1. Todavia, em Portugal, a sua obra não chegou a ser impressa no seu tempo por força dos factos políticos que norteavam o final da sua existência.
A sua biografia é extraordinária e paradoxal: de jovem cortesão entre príncipes e reis, humanista e artista da Renascença que privou com Miguel Ângelo na sua estadia em Itália, a um posterior esquecimento depois da morte do Infante Dom Luís e de D. João III.
Do regresso de Itália até à sua morte, viverá retirado da vida social, entregando-se a valores religiosos e contemplativos. Holanda acaba os seus dias numa espécie de exílio de inspiração cristã no seu monte em Sintra. Há uma fuga da vida social para uma vida rural, mais próxima dos valores iniciais do cristianismo, uma busca de pureza no contacto com a natureza. Podemos dizer que é com amargura, marcada por uma resignação de índole monástica e contemplativa, que Holanda se irá retirar da vida cortesã para uma espécie de auto-reflexão.
Desde o seu queixume a D. Sebastião, no seu tratado em 1571, até à morte do Arquitecto, em 1584, decorreram cerca de treze anos, final amargo e triste para o mais importante artista da Renascença em Portugal.2
Est exílio identifica-se com um tipo de “bucolismo” presente em algumas figuras do classicismo português, que encontraram talvez a sua inspiração em clássicos como Teócrito ou Virgílio. O facto é que o exílio campestre de Francisco de Holanda não é caso único e constitui uma das facetas do Renascimento português. A Contra-Reforma e o Neoplatonismo enquanto exigência de espiritualidade são tendências presentes nesta opção. Figuras incontornáveis da cultura portuguesa do século XVI como: Gil Vicente, António Ferreira e Sá de Miranda, assumem no fim de vida a mesma fuga bucólica e espiritual de Francisco de