FRAGMENTOS DO FUTURO trabalho profPATRICIA
959 palavras
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FRAGMENTOS DO FUTURORubem Alves Pediram-me para contar os meus desejos...
Que eu dissesse os meus sonhos, para a escola de minha filha...
Os antigos acreditavam que as palavras eram seres encantados, taças mágicas, transbordantes de poder. Os jovens também sabiam disso e pediam:
- A sua benção, meu pai...
Bênção, bendição, bendizer, bem-dizer, benzer, dizer bem...
A palavra, dita com desejo, não ficaria vazia: era como sêmen, semente que faria brotar, naquele por ela penetrado, o desejo bom por ela invocado.
E o pai respondia:
- Meus desejos são poucos e pobres. Te desejo tanto bem que não basta o meu bem-dizer. Por isto, que Deus te abençoe. Que seja Ele aquele que diga todo o bem com todo o poder...
E então, pelo milagre da fantasia, tudo se tornava possível. As palavras surgiam como cristais de poesia, magia, neurose, utopia, oração, fruição pura de desejo.
É isto que acontece sempre que o desejo fala e diz o seu mundo. Viramos bruxos e feiticeiros e a nossa fala constrói objetos mágicos, expressões simples de amor, nostalgia por coisas belas e boas, onde moram os risos...
É só isto que desejo fazer: saltar sobre os limites que separam o possível existente do utópico desejado, que ainda não nasceu. Dizer o nome das coisas que não são, para quebrar o feitiço daquelas que são...
Seus rostos diziam que eram crianças excepcionais. O ano do deficiente as trouxera à nossa contemplação doméstica via televisão. Os educadores presidiam suas atividades, até que se voltavam para o telespectador, com a sua mensagem:
Esperamos que, ao final de tudo isto, essas crianças possam ser úteis à sociedade.
Nunca ouvi ninguém que dissesse:
- O que a gente deseja mesmo é que as crianças estejam se divertindo e possam vir a ser um pouquinho mais felizes...
Talvez pensassem. Mas não podiam dizer por medo. Perderiam os empregos. Todos sabem que o objetivo da educação é executar a