Filo
Vinicius de Morais
Virgem! filha minha
De onde vens assim
Tão suja de terra
Cheirando a jasmim
A saia com mancha
De flor carmesim
E os brincos da orelha
Fazendo tlintlin?
Minha mãe querida
Venho do jardim
Onde a olhar o céu
Fui, adormeci.
Quando despertei
Cheirava a jasmim
Que um anjo esfolhava
Por cima de mim...
A Berlim
Vinicius de Morais
Vós os vereis surgir da aurora mansa
Firmes na marcha e uníssonos no brado
Os heróicos demônios da vingança
Que vos perseguem desde Stalingrado.
As mãos queimadas do fuzil candente
As vestes podres de granizo e lama
Vós os vereis surgir subitamente
Aos heróicos prosélitos do Drama.
De início mancha tateante e informe
Crescendo às sombras da manhã exangue
Logo o vereis se erguer, o Russo enorme
Sob um sol rubro como um punho em sangue.
E ao seu avanço há de ruir a Porta
De Brandemburgo, e hão de calar os cães
E então hás de escutar, Cidade Morta
O silêncio das vozes alemãs.
Idade média
Vinicius de Morais
Faze com que tua boca seja para mim água e não vinho
E faze com que para mim teus seios peras e não cidras...
Algum dia no teu ventre que eu vejo se estender como uma branca terra fecunda em lírios
Deixarei a semente de gigantes arianos que atravessarão silenciosamente o Volga
E que as cabeceiras de seda voando, as lanças de ouro voando, cavalgarão doidamente contra a lua...
História do samba
Vinicius de Morais
Gosto de um samba chulado
Porque é samba de cadência
No corrido sou danado
Mostro a minha independência
Mas o meu samba adorado
Onde perco a consciência
- É o samba de influência, ô maninha
Da polca nasceu o maxixe
Havanera concorreu
Mas foi o negro de piche
Quem mais ritmos lhe deu
Do maxixe veio o samba
Que ficou universal
- Negro é bamba, ô maninha
Negro é que é o tal!
Mar
Vinicius de Morais
Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas