Um dos fenômenos característicos de nosso tempo e que produz impactos decisivos sobre a religião é o dado da globalização, entendida como a afirmação de uma nova consciência global e planetária, que incide sobre a sociedade e os indivíduos. Trata-se de uma globalização intensificadora, que não se restringe a uma dimensão econômica, mas diz respeito à transformação de contextos locais e até mesmo pessoais de experiência social. Diante da contaminação cognitiva favorecida pela globalização e a insegurança que acompanha a incidência do pluralismo sobre as estruturas de plausibilidade dos sujeitos concretos, dois desdobramentos podem ocorrer. De um lado, a demarcação de identidades particulares, ou seja, o refúgio em universos simbólicos que favoreçam a impressão de uma unidade coerente e compacta da realidade social. De outro, a abertura à mestiçagem cultural, a negociação ou intercâmbio cognitivo com o horizonte da alteridade.A dinâmica atual da globalização e da pluralização correlata provoca a emergência de uma “ordem social pós-tradicional.Numa sociedade pós-tradicional as identidades religiosas são permanentemente provocadas a se declararem, a entrar em contato e se enriquecer com o diferente. Não há como escapar do processo permanente de redefinição da identidade e de reinvenção da tradição (ressemantização do sentido) numa sociedade plural.O exercício de uma comunicação dialógica implica necessariamente um deslocamente de fronteiras. Trata-se de um tema crucial para os próximos decênios: como trabalhar a questão das fronteiras com as outras tradições religiosas, ou melhor, como exercer a “arte de transpor fronteiras”. A “conversação” inter-religiosa é uma realidade não só possível como fundamental no momento presente. Poucas são as conversações tão importantes, e poucas tão complexas e difíceis, já que envolvem um processo de interpretação.A conversação constitui um dos mais essenciais imperativos de manutenção do sentido para os sujeitos. É mediante a