Filo
Prof. Dr. Antônio Jorge Soares – DACS – UFERSA
Um dos modos mais simples de se compreender a ciência é o concebido pelo chamado “senso comum da ciência”. É, a ciência também tem seu senso comum. E é aquele partilhado não só pelas pessoas que não tiveram a oportunidade de freqüentar regularmente um curso superior, como também pelas pessoas que fizeram um curso superior, mas não conseguiram obter uma visão interna da ciência. Estas últimas, que infelizmente são em grande número, soltam frases soltas quando se referem à ciência: “devemos ter uma visão crítica da ciência”, “a ciência só trouxe destruição”, “a ciência trouxe benefícios tecnológicos”, “a ciência é loucura quando comparada à sabedoria divina”, “a ciência é o senso comum refinado”.
Cada uma de tais expressões traduz, contudo, uma visão distorcida da ciência. Com efeito, a primeira só teria sentido se quem a proferiu dispusesse de fato, antecipadamente à crítica, de uma visão adequada do que seja ciência, pois ninguém de bom senso se sente autorizado a passar para a crítica sem antes conhecer adequadamente o que irá criticar. A segunda traduz uma visão unilateralmente pessimista da ciência. A terceira, embora manifeste uma visão otimista da ciência, faz-a unicamente em termos de ‘benefícios tecnológicos’, como se a ciência se reduzisse à produção de tecnologias. A quarta expressa uma contraposição entre ciência e religião, como se o cientista gastasse seu tempo em pesquisa justamente para refutar preceitos tidos como sagrados por esta ou por aquela concepção religiosa. A quinta traduz a crença segundo a qual a ciência é uma extensão direta do senso comum, como se não fosse um contra-senso o fato da junção de gases altamente inflamáveis, tais como o hidrogênio e o oxigênio, em vez de explodir, não pudesse produzir água, substância capaz de apagar certos tipos de fogo.
Mas, quais os estímulos e motivações que tais pessoas adotam para se sentir bastantes autorizadas a se