Filme "A pele que habito" e o ciborgue de Donna Haraway
Durante um casamento, que deveria servir como uma reintegração de sua filha, Norma (Bianca Suárez), que sofre psicologicamente em razão da morte da mãe – morte esta que presenciou –, conhece um rapaz. Embriagado e sob efeito de drogas, o jovem Vicente (Jan Cornet) e Norma, também com os sentidos alterados em virtude da alta dosagem de medicações que ingeria, saem rumo ao jardim. Num dado momento, eles deitam sob uma árvore. O pai, que vigiava a filha sob olhares atentos, a perde de vista e a encontra deitada no jardim, desacordada, e com peças de roupas distantes do seu corpo. Não há evidências, entretanto, de que tenha ocorrido de fato o estupro que Richard Ledgard supõe ter ocorrido. Ao acordar a filha, esta entra em um surto psicótico e passa a associar a imagem do pai àquela do ‘estuprador’. Estuprador este que nunca existiu, já que não houve estupro. É interessante destacar que neste momento, a música que a banda toca é a mesma música que Norma cantava quando sua mãe jogou-se da janela. Gal, sua mãe, ao escutar Norma cantar, atrai-se para a janela e neste momento, vê sua imagem refletida no espelho, e não reconhecendo-se no reflexo, não suportou sua imagem queimada e desfigurada. Segundo a narração de Marília do acontecimento, Gal não era mais uma pessoa, era uma faísca de gente. A música está associada ao trauma que manteve Norma emocionalmente retida na esfera infantil (o que é reforçado pela