FHC e a América do Sul
O caráter da política externa desenvolvida no governo de FHC sinalizava para a instauração de novos projetos e parcerias, sem definir claramente o paradigma estratégico pelo qual estava se orientando. FHC, como ministro das Relações Exteriores (outubro de 1992 a maio de 1993), deu início à substituição da ênfase na América Latina pela América do Sul, delimitando uma nova esfera geográfica da política regionalista. Essa diretriz teve uma dimensão prática muito importante na agenda diplomática sul-americana e o Mercosul passou a ser o núcleo desta estratégia.
Em 1994, o Mercosul adquiriu personalidade jurídico-institucional como união aduaneira para os países membros e sua vertente política passou a buscar novos parceiros. No período 1991-1997, o comércio intrazona apresentou taxas aceleradas de crescimento, afirmando a dimensão econômico-comercial do bloco, mas também avançou no caráter político-estratégico, para aprofundar os mecanismos de reparos e decisões conjuntas (destacando-se a “cláusula democrática” do bloco, decisiva na consolidação dos regimes democráticos na região, sobretudo nas crises paraguaias). Todavia, estes aspectos não se completaram, levando, a partir das crises de 1999, ao esgotamento do Mercosul em sua forma até então vigente.
Há que se recordar também, no que diz respeito aos seus antecedentes mais imediatos, que a atual ênfase na América do Sul tem talvez, como um dos seus marcos principais, a primeira reunião de cúpula entre os presidentes sulamericanos, ocorrida em Brasília entre agosto e setembro de 2000. Na Cúpula de Brasília, entre outras deliberações, foram lançadas as sementes do projeto da IIRSA (Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), cujo impacto só será perceptível no médio prazo, mas que sinaliza o resgate de uma visão mais estratégica e menos “comercialista” dos vínculos regionais, visão primeira essa que dava sentido, por exemplo, ao projeto original do Mercosul,