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Na aniguidade, filosofia e discursos filosóficos são incomensuráveis e inseparáveis.
Incomensuráveis porque, de um lado, se é filósofo não em função da originalidade ou da abundância do discurso filosófico que se inventou ou desenvolveu, mas em função da maneira pela qual se vive; e, de outro, porque o discurso só é filosófico quando se transforma em modo de vida.
Inseparáveis porque, de um lado, não há discurso que mereça ser denominado filosófico se está separado da vida filosófica; de outro, não há vida filosófica se não está estreitamente vinculada ao discurso filosófico inspirado e animado por ela.
Existem três maneiras de considerar as relações entre vida filosófica e discurso filosófico:
1. A escolha de vida determina o discurso, e o discurso determina a escolha de vida justificando-a teoricamente. O discurso filosófico é construído visando uma racionalidade rigorosa com o objetivo de fundar a racionalidade de uma determinada escolha de vida. Seja qual for a escolha (do bem, do prazer, da intenção moral, da vida segundo o intelecto), cabe ao discurso filosófico, num esforço de conceitualização e sistematização, desembaraçar com precisão os pressupostos, as implicações, as conseqüências de tal atitude, elaborando uma física, uma ética e uma lógica.
2. O discurso filosófico, se é realmente a expressão de uma opção existencial, é um meio indispensável, para poder viver filosoficamente, de exercer uma ação sobre si mesmo e sobre os outros. Enquanto expressão de uma opção existencial, o discurso filosófico, ainda que sob a forma de interrogação, de
investigação, de aporia, sem propor dogmas nem sistemas, possui uma função formadora, educadora, psicagógica, terapêutica, na medida em que obriga os indivíduos a um esforço pessoal, a um exercício ativo, um exercício espiritual, uma prática destinada a operar uma mudança radical do ser, produzir uma atitude, um habittus na alma do interlocutor,