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Enquanto a realidade do coronelismo se torna cada vez mais uma coisa do passado, continua e se renova a discussão acadêmica em torno do tema. Trabalhos recentes têm contribuído não apenas para produzir novas evidências sobre a natureza e o funcionamento do coronelismo, mas também para recolocar problemas mais profundos de análise política embutidos na literatura anterior. Dada a inegável influência ainda exercida pelo texto clássico de Vítor Nunes Leal Coronelismo, enxada e voto, de 1948, torna-se adequado tomá-lo como ponto de referência para a avaliação do presente estado do debate. A tarefa se vê facilitada pelo fato de este autor, após longo silêncio, ter voltado recentemente ao assunto (“O coronelismo e o coronelismo de cada um”, Dados,
1980) para responder a alguns críticos e reafirmar o sentido do texto original.
Referindo-se especialmente à obra de Eul-soo Pang (1979), Vítor Nunes insiste na especificidade de sua abordagem do coronelismo em relação à concepção dominante.
Para ele, o coronelismo se apresenta como um sistema político, uma complexa rede de relações que permeia todos os níveis de atuação política, e não apenas como mandonismo local. O mandonismo não define o coronelismo, assim como não o caracteriza o clientelismo. Mais que isto, o coronelismo, como sistema surgido na
Primeira República, implica para Vítor Nunes a decadência do poder do coronel, o enfraquecimento do mandonismo. Desta decadência é que surge a necessidade do compromisso com o governo estadual, elo inicial da rede que envolveria o sistema como um todo.
Boa parte da literatura mais recente ainda insiste no aspecto do mandonismo, mesmo aquela que confessadamente busca inspiração em Coronelismo, enxada e voto.
Sua maior contribuição reside no levantamento mais pormenorizado dos vários aspectos
— econômicos, políticos, sociais e psicológicos — que caracterizam o mando dos coronéis, e das adaptações por que vem passando ao longo do tempo o domínio