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Não há outra palavra para descrever a performance de Li Zhensheng na última mesa do quarto dia do Paraty em Foco.
Bem-humorado, o fotógrafo abusou de ditados chineses, flertou com discursos motivacionais e mexeu com o público presente na Casa de Cultura.
Sua história não é das mais doces. Fotógrafo do jornal “Diário de Heilongjiang”, Li registrou o período da chamada “Revolução Cultural” de Mao Tse-tung, época de violenta repressão política a qualquer manifestação contrária ao Partido Comunista chinês.
Li driblou o controle do governo sobre a produção fotográfica dos periódicos e, sob o assoalho de sua casa, guardou 30 mil negativos que mostravam fuzilamentos, castigos e humilhações públicas, consideradas imagens “inúteis” por quem comandava o país.
Apenas em 1987, período de relativa abertura política no país, as imagens vieram à tona.
De suspensórios e uma descontrolada câmera compacta, o fotógrafo não fala nenhuma palavra em inglês, parte do objetivo traçado quando ainda era jornalista de uma agência local.
Após perder uma oportunidade de trabalho, ele prometeu para si mesmo que viajaria o mundo todo e mesmo assim não precisaria de qualquer outra língua estrangeira para tal.
Meta alcançada.
Sempre que perguntado sobre temas mais espinhosos, Li respondia emaranhado em filosofias e ditados populares. Questionado sobre o que ele gostaria de fotografar na China atual caso tivesse 25 anos hoje, rebateu com o tema “poluição”, de fato, urgente, mas longe de polêmicas como a censura ainda vigente no país.
Antes, fez um longo relato sobre “namorar em público”, considerado um ato burguês no período da Revolução Cultural. Mãos dadas, abraços públicos, nada disso era possível. Impossível é não se enternecer com desejo tão puro e natural.
Da mesma forma, quando questionado sobre as fotografias que fez do massacre da Praça da Paz Celestial, ainda inéditas, Li recuou. Enquanto as imagens da época de Mao já foram absorvidas pela sua