Fetichismo
Alexander S. Lorand. 2
Tradução: Ana Beatriz Albernoz.
Revisão: Alessandra Barbieri e Adela Stoppel de Gueller
Minha amizade com os pais de um garotinho de quatro anos me permitiu observá-lo. Ele era filho único, o centro das atenções e objeto de afeição exagerada de ambos pai e mãe, assim como parentes e amigos. As observações que eu vou apresentar não serão novas, já que a prática psicanalítica oferece a oportunidade de reconstituir acontecimentos da primeira infância similares a esses. A única razão para apresentá-los é acrescentar às evidências por detrás do mais recente conceito de fetichismo de
Freud, primeiro descrito em 1928.
Eu lhes darei um breve histórico do garotinho para que o elo entre seus sintomas e suas experiências antecedentes fique mais compreensível.
Harry era precoce e o seu desenvolvimento mental era muito rápido.
Seu interesse e sua curiosidade sobre tudo eram suas características mais marcantes, e o conduziram por cada fase de seu desenvolvimento. Sua curiosidade aparecia em inúmeras perguntas sobre tudo e todos. Mas isso parou bruscamente por volta dos quatro anos, quando ele começou a tentar entender as coisas ele mesmo, como números, o significado das palavras, etc.
Quando eu primeiro notei esse hábito que vou descrever ele tinha apenas quatro anos e ele vinha se deleitando por alguns meses. O hábito consistia em acariciar e beijar os sapatos de mulheres amigas de sua mãe, mas apenas
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Este texto foi apresentado nas sessões prévias do Congresso de Psicanálise em Oxford em 1929, dois anos depois de ter sido publicado o texto O fetichismo de Freud (1927).
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Texto publicado na Interational Journal of Psychoanalisis, Nº11, 1930:419-42. Direitos de tradução cedidos.
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daquelas amigas de quem ele gostava muito. Além disso, quando essas amigas mulheres estavam sentadas em volta da mesa, ele tentava levantar suas saias e olhar sob elas. Esse hábito de explorar debaixo da saia