fernando pessoa

“Todas as cartas de amor são ridículas”
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Análise do poema:

O poema acima é de autoria de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, o genial poeta português. Heterônimos são nomes diferentes para os diferentes poetas que viviam em Fernando Pessoa. Cada qual com uma visão de mundo e um estilo diferente: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Fernando Pessoa, ele-mesmo. O poema que você acabou de ler é de Álvaro de Campos, poeta que tem como traço marcante de suas poesias, o uso do verso livre e, como temas, o mundo da técnica, o futurismo, o cansaço, o vazio da existência e a inquietude.
Para ajudar você na busca da mensagem, eu pergunto: de acordo com o eu - lírico desse poema, o que é que torna ridículas as cartas de amor? Leia de novo os versos. Um texto sempre pede releitura. Certamente que você descobrirá que o eu que fala no poema, isto é, o eu - lírico, diz que o que torna ridículas as cartas de amor são as lembranças que se guardam delas. No momento em que elas foram escritas, no momento em que elas aconteceram, não foram ridículas.
Para o eu - lírico desse poema, as palavras e os sentimentos esdrúxulos, esquisitos, extravagantes, como o amor, são ridículos por natureza, mas só quem não vive o amor, só quem não escreve cartas de amor, é que é, de fato, ridículo. Esse é o querer dizer desse poema. http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=6820