Fase anal
Acompanhando a maturidade fisiológica para controlar os esfíncteres (2-3 anos de idade), a atenção da criança dirige-se da zona oral para a zona anal. Essa mudança proporciona outros meios de gratificação libidinal (erotismo anal) bem como de expressão da agressividade emergente (sadismo anal). A musculatura é a fonte do sadismo e a membrana da mucosa anal, a fonte da pulsão erótica de natureza anal. A pulsão sádica, cujo objetivo contraditório é (1) destruir o objeto e também, ao dominá-lo, (2) preservá-lo, coincide com a atividade, enquanto que a pulsão erótica-anal relaciona-se com a passividade. A interação entre esses dois componentes instintuais é a seguinte: ao alvo bipolar do sadismo corresponde o funcionamento bifásico (expulsão/retenção) do esfíncter anal e seu respectivo controle. Quanto ao comportamento da criança vis-à-vis o objeto, em "A Predisposição para a Neurose Obssessiva" (1913i) [SE, XII, 321], Freud diz: "Vemos a necessidade de intercalar uma outra fase antes da forma final - fase em que as pulsões parciais estão já reunidas para a escolha de objeto, em que o objeto é já oposto e estranho à própria pessoa, mas em que o primado das zonas genitais não se encontra ainda estabelecido." Karl Abraham sugeriu que a fase sádico-anal fosse sub-dividida em duas fases: * primeira fase - o erotismo anal está ligado à evacuação enquanto que a pulsão sádica tem por objetivo a destruição do objeto; * segunda fase - o erotismo anal está ligado à retenção e a pulsão sádica ao controle possessivo do objeto.
Desse modo, as polaridades entre erotismo/sadismo, expulsão/retenção são expressas em conflitos relacionados à ambivalência, atividade/passividade, dominação, separação e individuação. Excesso de ordem, parcimônia e obstinação são traços característicos do caráter anal. Ambivalência,