Farmacogenetica
Farma
A gené
As bulas dos remédios costumam indicar as doses a serem administradas aos doentes para alcançar os efeitos desejados, mas nem sempre as coisas acontecem da forma prevista. Nas últimas décadas, estudos científicos têm revelado que os indivíduos respondem de modos diferentes aos medicamentos: em alguns casos, a mesma droga que cura uma pessoa pode ser tóxica para outra. Isso se deve, em boa parte, às variações genéticas existentes dentro da população humana. Essa constatação levou ao surgimento de uma nova ciência, a farmacogenômica (ou farmacogenética), que busca conhecer melhor as implicações dessas diferenças genéticas para as respostas individuais não só aos remédios, mas também a outras substâncias de uso comum, como o álcool e a nicotina.
Guilherme Suarez-Kurtz
Instituto Nacional de Câncer (RJ)
20 • CIÊNCIA HOJE • vol. 35 • nº 208
FARMACOGENÉTICA
cogenômica tica dos
medicamentos
Farmacogenômica? Farmacogenética? Esses termos e conceitos podem parecer novos, mas é provável que os leitores já tenham ouvido relatos ou vivenciado experiências associadas a esse tema. São exemplos frases como “aquele remédio foi bom para mim, mas não fez efeito no meu primo”, ou “ela não pode tomar remédios com aspirina ou penicilina porque tem alergia”. Tais situações decorrem da variabilidade da resposta das pessoas aos medicamentos, o que, em boa parte, se deve a fatores genéticos. É dessa questão que se ocupam a farmacogenética ou a farmacogenômica, termos usados aqui como sinônimos. A variabilidade da resposta a remédios afeta os efeitos terapêuticos destes e as reações adversas (indesejadas), de forma que a mesma dose de um mesmo medicamento pode ser benéfica para um paciente mas ineficaz – ou, no pior cenário, tóxica – para outro, embora os dois tenham recebido o mesmo diagnóstico clínico (figura 1).
A primeira referência à variabilidade da resposta farmacológica é atribuída ao matemático grego Pitágoras (c.580-c.500 a.C.), que descreveu,