Familia como Espelho
A autora era considerada pelas pessoas pesquisadas como “diferente”, mas não teve grandes dificuldades em se aproximar e conviver com os pobres; que são pródigos em conversa. Uma dificuldade era a desconfiança, pois os favelados vivem em constante ameaça, inclusive de despejo. Outra, os pedidos de ajuda, de interferência. Há expectativas de que o pesquisador passa mediar benefícios para a vida dessas pessoas, por ter melhor condição social e é natural, quase uma obrigação querer “aproveitar”.
As entrevistas constituem oportunidades singulares para as pessoas pesquisadas, porque elas podem falar e principalmente ser ouvidas. Sua existência é assim reconhecida por alguém que não pertence ao seu mundo. Os pobres gostam pelo menos no início, de serem avisados da visita, para esperarem com a casa limpa e arrumada.
Os pobres valorizam a educação formal do entrevistador, mas apontam limites, defende a prática, a experiência de vida que possuem como um valor. É uma forma de auto valorização defensiva diante dos bens aos quais eles não têm acesso.
Cap. 1 - Suas vidas são os resultados da industrialização e da urbanização do país e da migração, com a promessa de que dias melhores virão. Como a maior parte dos pobres que vivem hoje em São Paulo, a população adulta do bairro é, em sua maioria, migrante, sobretudo nordestina.
O bairro obteve visíveis melhorias quanto a bens de consumo coletivo, como resultado do impacto de lutas sociais de bairro nesta década em que novos atores políticos entram em cena. Serviços públicos como um posto de saúde e uma creche foram instalados a partir de movimentos femininos.
Em termos de suas histórias familiares, os moradores