falas do teatro auto da compadecida
JOÃO GRILO: Como vai a senhora? Já está mais consolada?
MULHER: Consolada? Como, se além de perder meu cachorro, ainda tive de gastar treze contos para ele se enterrar?
JOÃO GRILO: Quem não tem cão caça com gato
MULHER: Hem?
JOÃO GRILO: Quem não tem cão caça com gato e eu arranjei um gato que é uma beleza para a senhora.
MULHER: Um gato?
JOÃO GRILO: Um gato.
MULHER: Ai, João, traga para eu ver! Chega a me dar uma agonia. Traga, João, já estou gostando do bichinho
JOÃO GRILO: Pois então vou buscá-lo.
MULHER: Espere. Não vá buscar o gato que isso só me traz aborrecimento e despesa. Não viu o que aconteceu com o cachorro?
JOÃO GRILO: Ah, mas aquilo é porque foi o cachorro. Com meu gato é diferente...
MULHER:Diferente por quê?
JOÃO GRILO: É que o gato que eu lhe trouxe, descome dinheiro.
MULHER: Descome dinheiro?
JOÃO GRILO: Descome, sim.
MULHER: Essa eu só acredito vendo.
JOÃO GRILO: Pois vai ver. Chicó!
MULHER: Ah, e é história de Chicó? Logo vi.
JOÃO GRILO:Nada de história de Chicó, mas foi ele quem guardou o bicho. Chicó!
CHICÓ, entra com o gato.
CHICÓ: Tome seu gato. Eu não tenho nada com isso.
João dá-lhe uma cotovelada e mostra o gato à mulher.
JOÃO GRILO: Está aí o gato.
MULHER: E daí?
JOÃO GRILO: É só tirar o dinheiro.
MULHER: Pois tire
JOÃO GRILO vira o gato para Chicó, com o rabo levantado.
JOÃO GRILO: Tire aí, Chicó.
CHICÓ: Eu não, tire você.
JOÃO GRILO: Deixe de luxo, Chicó, em ciência tudo é natural.
CHICÓ: Pois se é natural, tire.
JOÃO GRILO: Então tiro. Passa a mão no traseiro do gato e tira uma moeda
MULHER: Nossa Senhora, é mesmo. João, me arranje esse gato pelo amor de Deus.
JOÃO GRILO: Arranjar é fácil, agora, pelo amor de Deus é que não pode ser, porque sai muito barato. Amor de Deus é coisa que eu tenho,dê ou não lhe dê o gato.
MULHER: Quer dizer