Eça de Q. e o Realismo
É quase unanime a indicação de Eça de Queirós como o mais importante ficcionista português, seguido por Camilo Castelo Branco e Almeida Garret, autores dos quais assimilou as principais qualidades, excedendo-as em muitas direções. Sua fama deve-se ao seu estilo e escritura artística, características que fizeram de Eça um dos autores que mais modelaram a língua portuguesa, levando a tensão conotativa da linguagem literária ao ponto limite, entre o ritmo sentencial da prosa e o ritmo vocabular da poesia. Seu pleno domínio da língua e como conseguia transformar isso em uma linguagem nova fez com que Ernesto Guerra da Cal o chamasse de “O Senhor das Palavras”.
A participação assídua de Eça de Queirós no movimento realista foi marcada pelas Conferências Democráticas (1871). O autor foi responsável pela Quarta Conferência, que aconteceu no dia 12 de junho de 1871. Na época, Eça já estava completamente integrado à Geração de 70. Em sua conferência, o autor versava sobre o tema “A Literatura Moderna - O Realismo como nova expressão da arte”, ressaltando o caráter social da literatura, seu valor como instrumento de transformação da sociedade e sua importância como arma de combate e moralização. Também criticava o escapismo romântico e a alienação quanto às questões contemporâneas, sob uma clara influência da noção determinista de que a arte era condicionada por fatores externos, como raça, meio e momento histórico.
Sob o lema “Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”, fundiu o realismo concreto e positivo, o naturalismo experimental, a observação minuciosa das misérias físicas e psíquicas, o gosto pela aproximação com o feio, o disforme, o desagradável, a sensualidade grosseira, beirando a vulgaridade, ou seja, o apego ao real e grosseiramente concreto, que convive com outra índole oposta a essa primeira, e que se manifesta na sensibilidade delicadamente poética, “aristocrática” e seletiva, num desejo de sair da realidade