Exemplo
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreveu certa feita que “[...] Histórias são como holofotes e refletores – iluminam parte do palco enquanto deixam o resto na escuridão” (2005, p.26). Esta observação nos parece particularmente justa quando se trata da vida de autores que se destacam por suas contribuições teóricas: os bastidores são comumente ignorados. Parece-nos pouco plausível abordar e discutir a obra de Lasswell, sem conhecermos sua trajetória pessoal. Certamente se poderia colocar em dúvida a necessidade deste empreendimento, sobretudo quando visamos focar a compreensão histórica e epistemológica de um campo de estudo, mas adotamos o ponto de vista de que a trajetória de vida e o contexto histórico que cercam o trabalho de um cientista ajudam a complementar o trabalho do epistemólogo, oferecendo um material rico e fértil sobre as relações que se estabeleceram entre um cientista e seu campo de estudo. Narrar a vida de cientistas não é um recurso recente. Pelo menos desde a era vitoriana, na Inglaterra, já podiam ser encontrados trabalhos biográficos no estilo “vida e cartas”92. Contudo, a biografia nem sempre grassou de prestígio nas ciências, ocupando mesmo muitas vezes uma posição de “aleijão” (FERRO, 1989). Como afirmou Joshua Lederberg ao fazer um retrospecto da situação do gênero,
Os relatos sobre a vida dos cientistas têm sido apenas uma acanhada moda nas últimas décadas, tanto no âmbito profissional quanto na cultura popular. Assim, "aquilo que alguém faz" é evocado para justificar suas descobertas e constituiu a literatura científica principal, enquanto "aquilo que alguém é" é omitido como um potencial contaminador do julgamento científico objetivo. Na ciência, a vida pessoal tem sido considerada muito menos relevante para a busca da verdade do que em campos mais auto-expressivos, tais como a literatura e as artes. É por esse motivo que a tradição da escrita científica desencorajou o uso de pronomes pessoais e