Eventos
E impressionante a necessidades que as pessoas têm de ter uma opinião sobre tudo. Tudo bem que Raulzito já sabia disso há dez mil anos atrás, mas a coisa mudou de figura nos dias de hoje.
Todo mundo sabe tudo sobre todos os assuntos. Pode reparar. De tanto ouvir explicações diferentes sobre isso e aquilo, da reprodução do bagre africano, da placa tectônica, da zona de convergência passando pela hermenêutica aplicada acabei por descobrir que existe um assunto em que todos são especialistas: o evento dos outros. Disso todo mundo entende. Funciona mais ou menos assim. Depois que o evento passa, quanto Inês já é morta e após o apito final, todo mundo explica porque o evento do camarada deu certo ou deu errado. Eventos de qualquer natureza, data, horário e local. E ainda fazem cara de “é claro que eu já sabia”. Faça o teste.
Diga há um amigo que rolou um evento com Beto Guedes, Lô Borges e Flavio Venturini, na
Chácara Flora, ali perto de Manguinhos, na Serra. Em seguida, comente que, para a sua surpresa o evento foi um sucesso. Aguarde apenas alguns segundos, tempo bastante para o cérebro do individuo processar a informação e então você vai ouvir: mas é lógico! Sabia que ia dar cetro. Em seguida, nosso especialista explica as razões: São três monstros sagrados da nossa
MPB. Eles têm público formado e não precisam estar na mídia. Logo em seguida o oráculo contextualiza sobre o local do show: Chácara Flora… Putz! Tudo a ver com o som dos caras.
Lá é outra coisa, lugar alternativo, bucolismo, natureza, tudo perfeito. Só vai quem tem carro, é outra concepção de evento, não é show pra garotada. Show de bola, mandou ver bem pra chuchu. Se analisar com cuidado tudo o que foi dito, você vai concordar que as explicações do sujeito estão bem fundamentadas, e que os argumentos que ele usou pra explicar o sucesso do evento fazem todo sentido. Acontece que, se você disser a esse mesmo “especialista em eventos” que o show deu errado e foi