Eu so um gato
– Aristóteles
Publicado em série a partir de janeiro de 1905 na revista Hototogisu, “Eu sou um Gato” marca a estreia de Soseki na ficção, trazendo um panorama da vida cotidiana e da intelectualidade do Japão do início do século XX, contado a partir do ponto de vista de um gato. É, basicamente, uma história narrada por um gato sem nome. Enquanto o Gato ronda pela casa de um professor que o adotou e pelos arredores, ele nos conta sobre suas observações a respeito de tudo, de seu amo, as pessoas da casa, as visitas, os vizinhos e sobre a sociedade em geral. Assim, ficamos conhecendo a história do próprio Gato e do mundo em que vive, um mundo que nós conhecemos e pensamos ser o mundo dos humanos, liderado pelo homem e destinado ao homem, mas visto a partir do ponto de vista de um felino. E o Gato, não é um gato qualquer. Em algumas passagens parece que ele se sente mais humano do que os próprios homens, apesar de estar sempre se gabando de sua felinidade, certo de que os gatos são muito superiores aos humanos. Desde o começo o Gato nos deixa bem claro seu julgamento a respeito dos humanos, em especial de seu amo. Durante toda a narrativa o Gato vai observando o que os humanos fazem e nos conta o que vê, do seu jeito, numa história cheia de digressões e rupturas que causam um efeito cômico e desnorteiam o leitor. A ação é interrompida a cada passo pelas observações excêntricas desse narrador/protagonista nada comum, um gato com inclinações filosóficas, que relata sua história dos humanos com uma língua autenticamente ferina. E, concomitentemente à visão quase pejorativa em relação ao ser humano, o gato faz observações cultas, eruditas, poéticas e bem-humoradas, confirmando, assim, sua superioridade. Apesar de a história ser sobre os humanos, vistos pelos olhos do Gato, nós humanos nos tornamos vítimas do sarcasmo do autor. Durante toda a narrativa temos o olhar crítico do Gato em relação aos humanos: “Gostaria de