“Eu não quero me intrometer na sua pesquisa”: etnografia e poder em um hospital do sul do brasil
Pedro Nascimento Instituto de Ciências Sociais – UFAL
Introdução
As questões abordadas nesta comunicação referem-se diretamente à discussão sobre o poder. Elas surgem da preocupação de refletir que desafios específicos estariam colocados quando nós antropólogos enveredamos por campos de pesquisa „minados de poder‟. Ou seja, quando estudamos “para cima”, enfocando categorias sociais com certo status social, poder econômico ou político. É certo que não se trata de dizer que o poder está em alguns lugares e outros não, mas digamos que em certos espaços, o etnógrafo se torna particularmente sujeito à censura ou controle pelos “poderosos”. Para além de haver especificidades nesse campo, o que inicialmente se destaca é que, no Brasil, há pouco debate sobre as dificuldades etnográficas de trabalhar com os detentores de poder. Trazer à tona pesquisas nessas áreas é, portanto, um importante objetivo 1. Mesmo não sendo a intenção insistir em especificidades ou reificar um „novo‟ campo, vale nos perguntarmos: que tipos de questões são recorrentes em espaços tão distintos quanto, por exemplo, empresas e bolsa de valores, ciclos de justiça restaurativa e um hospital? 2 Haveria uma particularidade desses contextos da pesquisa – instituições com regras e hierarquias bem definidas e claras? É nesse sentido que atentar para a maneira como fazemos pesquisas nesses contextos ganha relevância. Para a problematização dessas questões, apresentarei alguns elementos da minha experiência de pesquisa no âmbito do doutorado (cf NASCIMENTO,
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A inexistência de um debate maior não significa inexistência de pesquisas que apontam para essa problemática. Entre outros trabalhos, podemos citar TEIXEIRA (1998); SCHUCH (2005); MULLER (2007). 2 Essas questões foram tratadas inicialmente por ocasião da minha participação como debatedor na mesa “Antropologia em Campos Up” no evento “Experiências,