Etica
O OUTRO COMO CRITÉRIO PARA A TOMADA DE DECISÃO
Prof. Dr. Vanderlei Carbonara
1. Contexto em que a ética passa a dar atenção ao “outro”
Proponho que se inicie esta reflexão com alguns questionamentos que você pode responder a si mesmo. O que posso dizer sobre o outro que está diante de mim? O que me comunica o rosto do outro que se põe frente ao meu rosto? O que muda no meu agir a presença do outro? E se o outro não estivesse aí, algo mudaria? Quando tomo uma decisão, que importância dou à presença do outro? Lembre-se que a ética importante por que não estamos sós, porque existe algum outro além de mim. Se você fosse alguém solitário no mundo, a ética não estaria em questão. Ou seja, não há ética para um só sujeito. A ética tem razão de ser porque não somos sós, porque estamos relação com outros.
Tendo em vista que a ética existe porque não estamos sós, então voltemos nossa atenção ao outro. Primeiramente algo que poderá parecer apenas uma constatação óbvia: o outro não sou eu.
Ou seja: o outro é diferente de mim. Ao escrever este texto preciso dar-me conta que você, que o lê, é diferente de mim. Você que está lendo-o, precisa dar-se conta que quem o escreveu é diferente de você. Este dar-se conta da diferença – que o outro é diferente – possibilita não tomar o mundo inteiro para si e deixar o outro mostrar-se, não por aquilo que o julgamos, mas por aquilo que ele se revela. Esta diferença não reside em aspectos superficiais1: a cor dos olhos, o comprimento do cabelo, as preferências políticas, as opções religiosas, o modo de falar e de agir etc. Em questão está uma diferença radical2. O outro é inteiramente outro, diferente de mim. E, portanto, seria ingênuo transpor ao outro tudo aquilo que julgo adequado para mim.
Tenha presente que nesta concepção de uma diferença radical, deste dar-se conta do outro como inteiramente outro, está um dos aspectos mais importantes do nosso tempo. Aspectos da vida privada e social