Etica na sociedade
DIREITO E ÉTICA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO 1.
Ocorre, em nossos dias, uma insistência cada vez maior na questão ética. Podemos explicá-la tanto nos referindo ao quadro mundial como ao nacional. No plano global, presenciamos nos últimos anos uma redução das assim chamadas "grandes narrativas", ou seja, da grande teoria que tudo explica — em especial, mas não só, o marxismo. Essa perda de impacto das explicações muito abrangentes, que acabavam reduzindo a bem pouco o indeterminado, o imprevisto, abre espaço para a ação do ser humano. Um esvaziamento das determinações mais amplas permite que o ser humano encontre um espaço para respirar, que sua iniciativa se amplie. E isso abre lugar para os valores éticos, que uma teoria determinista — e aí pouco importa que fosse a marxista ou qualquer outro primado, mesmo neoliberal, do econômico — tornava derrisórios. Sustentarei que os valores éticos não se encontram, mas se constituem, ou seja, que não estão prontos e acabados, mas são construídos pela liberdade e a indeterminação humanas; contudo, por ora, baste notar que a atual conjuntura mundial permite maior campo de atuação para eles. Se a redução das grandes explicações assim autoriza a volta do ético, o caráter cada vez mais competitivo das relações humanas cria uma demanda, uma necessidade, um clamor por ética. Explico-me. Até um tempo atrás, as diferenças sociais eram mais ou menos atribuídas a causas de certo recorte natural. Homens prevaleciam sobre mulheres, uma etnia sobre outra, e por aí iam as coisas. Mas, em nosso tempo e em nossa parte do mundo, justificar as desigualdades e as diferenças como dadas, como naturais, está-se tornando cada vez mais inviável. Isso torna difícil a percepção da vida. A concorrência dá-se em estado quase bruto. Não tem mais as justificativas que a tornavam suportável, que entre a violência das relações sociais hierarquizadas e a sua percepção instituíam um biombo, uma tela de atenuantes. Um vazio afetivo se