Estudo dirigido sobre bases epistemológicas da psicologia
Provável exigência do espírito humano, o dote de uma representação coerente do mundo é, em outras palavras, carência de orientação. A busca do homem em estabelecer uma realidade imutável é antiga e, ao que parece, não deixará de existir.
A natureza e a linguagem humana, sozinhas, não são capazes de oferecer uma orientação ao homem. Entretanto, a segunda o possibilita criar um universo simbólico que o permita lidar com a realidade. O conceito grego da doxa é essencial para pensarmos essa estrutura de símbolos, a do mundo mítico, onde o problema da verdade, marco das rupturas epistemológicas no devenir histórico, não existe.
A doxa compreende um sistema de crenças caracterizado, principalmente, pela plena satisfação. O homem da doxa manifesta suas crenças nos sentimentos e nas falas, que utiliza não para discutir, mas para afirmar. Em todas as práticas o mito é encenado com sensação de êxito na ação e felicidade na alma. Não existem outros desejos, atitudes ou palavras a serem exclamadas senão aquelas recomendadas; porque a certeza existe, e faz com que todos se enxerguem enquanto semelhantes, não existindo, portanto, a alteridade; uma única orientação para tornar a dúvida ausente; o problema da verdade não existe. Na doxa, o malogro não se mostra: a oposição entre o erro e a verdade é inexistente; porque ela possui o sentido; um sentido que não busca ser compreendido e muito menos questionado.
O problema da verdade somente irá emergir quando uma orientação diferente for apresentada por um elemento externo (o outro) e a certeza do mito for colocada em prova. A violência se revela como principal expressão da oposição entre as doxis e a inconstância (perigo) do outro irá justificar os mecanismos de controle (leis) utilizados no mundo