Escravidão, direitos e conflitos
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Interfaces em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Escravidão, direitos e conflitos. Termo de Barbacena
1850-1888
Roseli dos Santos1
Resumo
O presente artigo traz parte dos resultados, que ainda estão em andamento, de uma pesquisa sobre os conflitos surgidos entre senhores e escravos, no Termo de
Barbacena, em meado do século XIX. O embate analisado tem como pano de fundo, de um lado, a promessa da liberdade feita pelas proprietárias do cativo
Manoel e, de outro, a frustração desse escravo quanto à conquista efetiva da liberdade. As documentações analisadas trazem luzes ao objeto da pesquisa: testamentos, inventários e processos crimes. Por meio dos testamentos, verificaremos as concessões feitas por senhores a seus cativos. Entretanto, a fonte principal utilizada para a compreensão da problemática será o Translado de Auto Crime, no qual Manoel, juntamente com outros escravos, aparece como réu. Por meio dessa documentação, pretende-se debater a Justiça no Brasil
Império e seu papel contraditório quanto à função social dos escravos, que eram, por um lado, considerados “miseráveis ou incapazes”, necessitados de um curador para sua defesa, e, por outro, qualificados como agentes sociais
Mestranda do Curso de História da Universidade Federal de São João del Rei
(UFSJ); especialista em História de Minas Século XVIII e XIX pela UFSJ com monografía intitulada: Terras e Liberdades – uma recompensa pela escravidão?
Barbacena/ 1850 a 1888.
E-mail: selix07@hotmail.com
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Revista IDeAS, v. 6, n. 1, p. 10- 32, 2012.
Escravidão, direitos e conflitos. Termo de Barbacena 1850-1880
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ocupando as posições de réus ou testemunhas.
Palavras-chave: escravidão, legados, justiça.
I. Introdução
As noções de “decadência” e da “involução” econômica em Minas Gerais, após o auge minerador, foram esvaziadas nos últimos anos, possibilitando definir nitidamente a