Escravidão antiga e moderna
Escravidão antiga e moderna
Ciro Flamarion Cardoso * (coordenador)
Marcelo Rede **
Sônia Regina Rebel de Araújo ***
Introdução
Na preparação desta mesa-redonda, o coordenador havia solicitado aos participantes – além daqueles que entregaram seus resumos, também tomaram parte
Manuel Rolph Viveiros Cabeceiras (UFF), Regina Maria da Cunha Bustamante (UFRJ) e
André Leonardo Chevitarese (UFRJ) – que se referissem a uma série de tópicos. Dentre eles, o das possíveis relações entre a escravidão antiga e a moderna como áreas de estudos. Foi este aspecto que se decidiu abordar aqui.
Escravidão e antropologia (Marcelo Rede)
Seria necessário, antes de mais nada, reafirmar a dificuldade de estabelecer um conceito de escravidão minimamente satisfatório para dar cobertura a manifestações históricas muito diversificadas. É possível que o impasse se deva, sobretudo, ao fato de que a escravidão, ao contrário do que muitas vezes se tem insistido, não seja um status, mas um processo. Ela não se apresenta como uma situação imóvel (que poderia, então, ser definida por critérios imutáveis), mas como uma complexidade dinâmica, que exige, portanto, para a sua apreensão, um conjunto de conceitos analíticos que dê conta de sua fluidez. O acento no processo é válido quer no nível individual, da biografia do escravo, de
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Professor Titular do Departamento de História da UFF.
Professor do Departamento de História da UFF.
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Professora do Departamento de História da UFF.
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Tempo, Vol. 3 - n° 6, Dezembro de 1998.
sua trajetória particular no interior de um sistema social, quer no nível da escravidão
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enquanto fenômeno coletivo .
Parece-me que é exatamente por isso que o postulado do escravo-mercadoria não funciona bem, e não apenas para a Antigüidade. A situação em que o escravo se encontra reduzido ao status de objeto, de bem mercantilizável, corresponde apenas a uma parcela – por si só bem complexa – de sua trajetória social e a