Eros
SEGUNDO AGATHON -- “Eros não caminha sobre o chão, nem mesmo sobre os crânios, mas sobre aquilo que há de mais brando: a maneira de ser, o caráter (ethos), bem como a alma (psique) de homem e deuses. Fugindo de caracteres rudes, o deus faz sua morada naqueles que encontra brandos. Assim, ele possui aspecto úmido, prova-o o fato de que ele não poderia tudo envolver, nem penetrar e sair de toda alma tão secretamente, se sua constituição fosse seca (...) acerca da virtude pertencente a Eros, Eros não comete ou sofre injustiça, nem contra homens nem contra deuses, pois pela violência o deus não cede, já que a violência não o alcança, e nem age, uma vez que todo homem de bom acordo lhe serve. Quanto à temperança, todos estão de acordo quanto a ser esta o domínio sobre prazeres e desejos, e nenhum prazer ser maior que o amor.” (PLATÃO, Banquete, 195e, apud. FRANCALANCI, Carla. Amor, Discurso, Verdade – Uma interpretação do Sympósion de Platão, Vitória: EDUFES, 2005, p. 97-98).
(Diotima para Sócrates)
SEGUNDO DIOTIMA -- Enquanto filho de Poros e Peria Eros, de início, é sempre pobre e para muitos se disfarça como delicado e belo, como acredita a maioria das pessoas. Pelo contrário, Eros é rude, bagunceiro e ele não tem colchão, dormindo no chão, ao rés das portas alheias e nas bordas dos caminhos, pois como sua mãe, ele tem um caráter indigente; enquanto a exemplo de seu pai ele é afinado com o que é belo e com o que é bom, ele é viril, resoluto, ardente, é de um calor indubitável, ele não para de tramar confusão, ele é apaixonado pelo saber e fértil de expedientes, ele passa todo o tempo a filosofar, é um feiticeiro sem dúvida, um mágico e um expert. É preciso acrescentar que por natureza ele não é nem imortal nem mortal. No espaço de um mesmo dia, ele é tanto em flor, pleno de vida, quanto moribundo; pois ele vem de novo à vida quando suas experiências se realizam, e isso em virtude da natureza que ele recebe de seu pai;