Epistemologia
O renascimento é o momento em que, no caso específico da Filosofia, o pensamento passou a intensificar sua luta contra a ideologia da Igreja, de que a Filosofia deveria ser serva da Teologia. As discussões filosóficas do período, cujo tom era dado pelo conflito entre fé e razão, deram origem a uma forma curiosa de ceticismo: o ceticismo cristão, também classificado paradoxalmente de “ceticismo fideísta ou fideísmo cético”. Filósofos cristãos como Michel de Montaigne (1533- 1592), por exemplo, usaram todo o arsenal cético de argumentação para demonstrar que a razão era limitada e insuficiente para estabelecer critérios seguros e definitivos sobre os quais pudesse se erigir verdades indubitáveis, e que os sentidos eram enganadores, enfim, para persuadirem que o saber das ciências era de fato precário. Portanto, de acordo com esses religiosos céticos, o mais adequado aos homens seria mesmo se apegar à fé, ou seja, orientar-se na vida, sobretudo, pelos dogmas da Bíblia e da religião católica, pois seria mais seguro. A presença decisiva do ceticismo nesses debates gerou o que estudiosos do ceticismo, como Richard Popkin, chamaram de “crise cética no Renascimento”. Mas com o interesse cada vez maior pelas reflexões de Sexto Empírico, essa crise se alastrou no tempo, desencadeando outra crise intelectual talvez ainda mais relevante: a crise cética que resultou na Reforma Protestante. Afinal, Martinho Lutero não ficou imune às críticas céticas aos critérios de verdade, tampouco às tentações da técnica de suspensão do juízo esboçada por Sexto Empírico.
Outro fato curioso ocorrido no século XVI, durante a Reforma, foi à utilização do ceticismo tanto pelos reformadores quanto pelos ideólogos da Contra- Reforma para marcarem as suas posições. De um lado, Lutero usava os argumentos do ceticismo para demonstrar a fragilidade dos critérios de verdade estabelecidos pelo Vaticano. Do outro, pensadores como Erasmo de Roterdan articulavam os mesmos