Entrevista Vima Lia Martin
Série: Antonio Candido e os Estudos de Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa
II – Vima Lia Martin
Anita Martins Rodrigues de Moraes1 – Em sua opinião, que contribuição a obra de Antonio Candido tem dado aos Estudos
Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa?
Vima Lia Martin – Penso que a área de Estudos Comparados de
Literaturas de Língua Portuguesa, tal como se constituiu na USP, é bastante tributária das reflexões desenvolvidas por Antonio Candido. O pensamento de Candido está muito presente, desde os primeiros trabalhos desenvolvidos nessa área de investigação, inclusive por colegas e
alunos
seus.
Lembro,
por
exemplo,
das
reflexões
desenvolvidas pelos professores Maria Aparecida Santilli, Benjamin
Abdala Jr., Tania Macêdo e Rita Chaves.
AMRM
–
Haveria,
nesse
sentido,
noções
e
conceitos
formulados por Candido para a compreensão da literatura brasileira que, em sua perspectiva, se mostram funcionais para o estudo de outras literaturas de língua portuguesa?
Vima Lia Martin - Certamente. Às vezes até brinco com meus alunos dizendo que a perspectiva a partir da qual focalizamos as literaturas de língua portuguesa está marcada por um “vício de formação”, porque a gente se empenha em reconhecer os processos de formação/ acumulação e modernização que estão em curso nessas literaturas. Ou seja, há um modo de apreensão da literatura que está
Doutora em Toeria da Literatura pela UNICAMP. Autora da obra O inconsciente teórico: investigando estratégias interpretativas de Terra Sonâmbula, de Mia Couto.
1
Revista Crioula – nº 9 – Maio de 2011
marcado pelas ideias do Candido. Estudar as literaturas africanas desde uma perspectiva histórico-sociológica, dando destaque para a vida nacional, para a ideia de processo, com rupturas em relação a uma suposta literatura matriz, é uma forma de pensar devedora das contribuições de Candido. E então é preciso ter cuidado,