Entrevista Mirian Leitão
Ao fim, Míriam relata que o filho Vladimir nasceu “forte e saudável, sem qualquer sequela” e que lhe deu duas netas, Manuela e Isabel. O filho caçula, Matheus, lhe deu ainda outros dois netos, Mariana e Daniel. E finaliza dizendo que não sente ódio:
"Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país."
LEIA O RELATO
'Eu sozinha e nua. Eu e a cobra. Eu e o medo'.
Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo, 3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto, estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía.
Eu tinha dado quatro plantões seguidos na redação da rádio Espírito Santo e já tinha quase um ano de profissão. Eu vestia uma camisa branca larga, de homem, sobre o biquíni vermelho. Caminhando pela Rua Sete em direção à praia, alguém gritou de repente:
- Ei, Marcelo?
Nos viramos e vimos dois homens correndo em nossa direção com armas. Eu reconheci um rosto que vira em frente à Polícia Federal. Meu ônibus sempre passava em frente à sede da PF e eu tentava guardar os rostos.
- É