Entre saias justas e jogos de cintura - Capítulo 5
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DESCONSTRUÇÃO DAS CATEGORIAS
"MULHER" E "NEGRO"
Mireya Suárez
Grupo de Trabalho Temas e Problemas da População Negra no Brasil
XV Encontro Anual da ANPOCS: 15 a 18 de outubro de 1991
Caxambú, Minas Gerais
Brasília
1992
Desconstrução das Categorias "Mulher" e "Negro"
Mireya Suárez
INTRODUÇÃO
Virginia Woolf e Simone de Beauvoir repararam, com muita propriedade, que a mulher e a feminilidade eram assuntos que intrigavam profundamente o pensamento europeu. Woolf (1985) agrega que o tema obsesionava particularmente aos homens e
Beauvoir (1980) comenta que o "problema" do que fosse mulher estava colocado, exclusivamente, por e para eles. Entretanto, para os propósitos deste ensaio é significativo reter o fato de que, seja como resposta reativa ao pensamento masculino ou, como acredito, por compartilharem das temáticas de seu tempo, as duas escritoras, como muitas outras depois delas, também se colocaram a questão1.
A construção da categoria "mulher", em singular, perpassa discursos de diferentes origens sociais, como o literário, o científico, o religioso, e os diversos discursos de senso comum. Também perpassa discursos de diferentes orientações ideológicas, desde os mais conservadores aos mais progressistas, incluídos aqueles produzidos pelo feminismo.
Todos esses discursos diferem e divergem o suficiente como para configurar, no campo em que se encontram e se atritam, uma das polêmicas mais importantes deste século. Entretanto, o fato de ser possível identificar neles elementos comuns conduz a pensar que constituem transformações de uma mesma estrutura de pensamento que, como no caso do apartheid sulafricano, é essencialista2.
A construção da identidade feminina, baseada nas características biológicas, na celebração da maternidade e no elogio as numerosas atitudes a ela associadas, acaba por definir a mulher enquanto categoria natural que, resistente às forças arbitrárias da cultura, da história e da