ENTRE BIGORNAS, CORPOS E SEXOS
Voltado, então, para o problema do relacionamento entre o corpo e a diferença sexual e a natureza da diferença sexual em geral, Laqueur sustenta que não há qualquer conhecimento específico da diferença sexual em termos históricos a partir de fatos indiscutíveis sobre os corpos. Nessa direção, o autor pretende demonstrar, “com base em evidência histórica, que quase tudo que se queira dizer sobre sexo – de qualquer forma que o sexo seja compreendido – já contém em si uma reivindicação sobre gênero”. Laqueur dedica-se, assim, a comprovar a hipótese de que o modelo de sexo único (“carne única”), por meio do qual o corpo da mulher é conhecido como uma versão menos importante do corpo do homem, não desapareceu, mesmo quando da entrada em evidência, durante o Iluminismo, do modelo de dois sexos (“duas carnes”), sendo o corpo da mulher, aqui, o oposto incomensurável do corpo do homem. “Quanto mais examino registros históricos, menos clara se torna a divisão sexual; quanto mais o corpo existia como fundamento do sexo, menos sólidas se tornavam as fronteiras”, dirá Laqueur. Assim é que só houve interesse em buscar evidência de dois sexos distintos, diferenças anatômicas e fisiológicas concretas entre o homem e a mulher quando essas diferenças se tornaram politicamante importantes. O que o leva a afirmar que “o sexo, tanto no mundo do sexo único como no de dois sexos, é situacional; é explicável apenas dentro do contexto da luta sobre gênero e poder”.
De acordo com Laqueur, foi a “descoberta” contingente do prazer da mulher