ensaio - O Anel de Policrates
Podemos afirmar, antes de tudo, que este conto expressa as limitações da felicidade humana mas também a ilógica caprichosa do destino. Polícrates admite, no seu todo, um conjunto de condições que o fazem merecedor de um lugar de destaque nas Histórias de Heródoto. Isto porque “detinha poder e riqueza”1, governando um império sólido. Em todas as guerras ele era bem-sucedido, conquistando diversas ilhas e cidades do continente. Com todos estes êxitos,
Polícrates tornou-se um rei famoso. “ Confiava na sorte, que considerava uma fiel aliada”2, mas sem perceber, em consequência da sua enorme prosperidade, desencadeou a inevitável inveja divina. Desta forma, o percurso existencial de Polícrates torna-o um paradigma trágico do homem poderoso que mergulha na destruição. “ O tempo de ascensão é sempre curto na narrativa de Heródoto”3.
A amizade de Amásis, alertou Polícrates, “senhor de uma grande fortuna”4, mostrando-se preocupado com o seu destino, face à sua cegueira e inconsciência total da sua sorte e do seu sucesso. É avisado por Amásis de que é necessário encontrar um modo de criar a ficção de sofrimento, através da perda irremediável de algo que muito estime e preze. Tomando em consideração a mensagem do seu amigo egípcio, Polícrates segue para o alto mar e lança nas profundezas marinhas, “como vítima oferecida aos deuses e ao