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MACHADO DE ASSIS E A FILOSOFIABENEDITO NUNES (UFPa)
Pascaliano sem o consolo jansenista da Graça distribuída aos eleitos da Salvação, schopenhaueriano que substituiu pelo ódio ã vida a moral da renúncia da vontade de viver, e céptico radical, pirrónico, derivando para o niilismo - eis os traços fi sionomico-doutrinários, carregados nas tintas do negativismo com as quais a tradição crítica revestiu o perfil filosófico de Machado de Assis que fez chegar até nós emoldurando-o na autoridade das fontes principais em que o criador de Dom Casmurro teria abeberado o seu pensamento.
Montaigne ensinou a Machado as motivações naturais das ati tudes humanas; a essa primeira escola da skepsis, Pascal acres centou o trágico da condição humana, inquieta e desconsolada, di vidida e contraditória, em conflito consigo mesma, ã procura de auto-satisfação e encontrando o tédio, tendendo ao racional mas desnorteada pela razão, impotente para distinguir o verdadeiro e o falso como entre o bem e o mal. Leitor assíduo de Pascal, e no entanto privado do consolo da religião, que recusou por um ato de probidade intelectual, restou a Machado de Assis, sem o socorro da fé cristã, a visão desventurada da existência - o pes simismo congénito que selou a sua afinidade eletiva com o
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Schopenhauer, a julgarmos como elemento afetivo, como mood de ca rãter fluido, tanto pertencente à vida quanto à obra, à biografia e à escrita, passando de uma a outra, o ódio à vida que mais de um estudioso atribuiu ao Bruxo do Cosme Velho (1).
Enfim, o Bruxo teria sumarizado esse pessimismo que lhe im pregna a ficção, não sem antes compatibilizá-lo com a atitude céptica e a tragicidade pascaliana, em três momentos exemplares de sua obra: a prosopopéia de O Delírio, em Memórias Póstumas de
Braz Cubas, a expressão dialogistica do sistema filosófico do personagem Quincas Borba - o humanistismo - nas mesmas Memórias e no romance seguinte, Quincas Borba - e o paralelo desenvolvido no capítulo IX (A Opera) de