Enfermeiro
Clóvis de Barros Filho — Nossa crise é moral e, entre outras razões, decorre de uma imensa fragilidade na nossa formação. Não fomos ensinados na escola a refletir sobre a liberdade que temos para escolher nossos caminhos e sobre como devemos agir. São problemas profundos e de difícil correção imediata. A nossa sociedade, com seus mecanismos repressivos, não cumpre seu papel civilizatório de despertar, pelo menos, o medo na hora de a pessoa agir. A esperança de enriquecer fácil é muito maior do que o medo de ser pego, razão pela qual vale a pena arriscar.
ZH — E os efeitos da corrupção?
Clóvis — Na hora em que há uma crença generalizada de corrupção, a desconfiança acaba deslegitimando o Estado. Pode haver consequências nefastas como acreditar que segmentos vitais à sociedade, como saúde, educação e segurança, possam ser melhor tratados de maneira privada. Não é porque o Estado não faz como deveria o seu papel que ele deixa de ser parte legítima na condução dessas áreas, sobretudo em uma sociedade como a nossa, profundamente desigual e marcada pela concentração de renda.
Atendendo a exortações, aí vai um apanhado sobre ética, moral e corrupção O ponto de vista mais comum sobre a corrupção corresponde ao que se poderia chamar de perspectiva moral. A perspectiva moral situa no indivíduo a causa da corrupção. O sujeito comete um ato de desonestidade porque é desonesto. Um ambiente é propenso à desonestidade porque as pessoas seriam propensas à desonestidade. Se não existissem pessoas desonestas, ou se seu número fosse muito pequeno, a corrupção seria muito menor do que é..
O que há de errado com tudo isso? Na aparência, nada. É claro que atos de desonestidade são cometidos por pessoas desonestas. É evidente que é melhor votar num indivíduo honesto do que num meliante. É óbvio que atos de corrupção precisam ser