Empresários Portugueses e a "Causa Européia": interesses, ideologias, consensos e dissensos
MARIA AUXILIADORA LEMENHE*
* Doutora em Sociologia. Professora Associada Nivel II – Universidade Federal do Ceará.
Artigo pela publicado na Revista de Ciências Sociais
Universidade Federal do Ceará Vol. 41 – Número 2 - 2010
Introdução
A integração de Portugal à Comunidade Econômica Europeia (CEE) foi tocada pelo Partido Socialista (PS), como sua causa política maior na conjuntura 1977-1986. Estes anos assinalam, respectivamente, a apresentação formal à CEE do pedido de adesão feito pelo primeiro-ministro Mário Soares e a consagração de Portugal como membro de pleno direito da Comunidade. Tendo em vista a hegemonia do PS ao longo desse tempo, as ações externas e internas implementadas pelo governo objetivando a integração podem ser percebidas como um programa de governo na maior extensão do período considerado. O bordão A Europa conosco, cunhado pelo PS, é expressivo disto (ROYO: 2005: 36). Estudos que analisam especialmente os processos políticos transcorridos em Portugal a propósito do tema (PINTO: 2005) revelam apoios e contestações originários de distintos flancos onde se situam os partidosi. Contra a causa socialista opõe-se de forma contundente o Partido Comunista Português (PCP), porque temeroso da expansão do imperialismo em Portugal. No flanco da direita, o Centro Democrático Social (CDS) prestou seu apoio sem restriçãoii, enquanto que o Partido Social Democrata (PDS), partido de centro-direita, “defendeu uma aproximação matizada” (PINTO, 2005: 39). Quanto à posição dos empresários, referindo-se às suas duas maiores entidades no País (A Confederação da Indústria Portuguesa, CIP, e a Associação Industrial Portuguesa – AIP), o citado autor identifica convergência da parte de ambas com a ideia da integração de Portugal à CEE, “ainda que com tonalidades diferentes” (PINTO, 2005: 39). Considera “ocasionais” os ataques da CIP à causa da adesão e