Embargo de declaração
Carta Sobre a Tolerância de John Locke versus Catecismo da Igreja Católica
Estive a reler partes do Catecismo da Igreja Católica de 1993. Releio também a Carta Sobre a Tolerância de John Locke publicada em 1689, que proclama a total separação entre o poder das igrejas e poder do Estado. Pedi aos meus alunos do 12º ano, a propósito da intolerância religiosa, para fazerem um trabalho sobre António José da Silva, o Judeu, que foi garroteado e queimado pela Inquisição de Lisboa num Auto-de-fé em Outubro de 1739. São impressionantes os métodos dos inquisidores, a sua perversidade, o roubo dos bens dos acusados, a tortura e matança de inocentes, o terror persecutório, que promovia acusações, e com o qual se alienou durante séculos milhões de seres humanos. É seguramente um dos mais obscuros atentados à dignidade humana na história da civilização ocidental. E é incrível como passado séculos as igrejas continuam manipular a sociedade e o Estado em busca de poder temporal.
Passados mais de 300 anos sobre a publicação da Carta Sobre a Tolerância, as religiões continuam a interferir no Estado, continuam a lutar por poder. Em particular, as religiões monoteístas têm especial apetência por se imporem em todas as áreas da sociedade como verdades absolutas, reguladoras, forçando comportamentos, manipulando as consciências, usando desde as técnicas subtis até as mais perversas. E muitas vezes são os próprios políticos que tentam explorar essa promiscuidade em benefício próprio. Na história do Ocidente, a perda da inocência do Cristianismo, o seu pecado original, deu-se quando Constantino o elevou à categoria de religião oficial do Império Romano, e os cristãos passaram da condição de perseguidos à de perseguidores. Locke esclarece bem este gênero de processos: “Os mais violentos defensores da verdade, os que se opõem aos erros, os que clamam contra o cisma, dificilmente manifestam este seu zelo por Deus, com o qual tanto se inflamam, exceto quando têm o