Elocubrações de guiga
25268 palavras
102 páginas
ElucubraçõesGuilherme Heinzelmann Benta
2012
sábado, 29 de março de 2008
Banho
A água morna revigora a carne cansada e a prepara para novas aventuras. Bolhas são formadas com o intuito de purificar cada centímetro do corpo. A mão áspera do árduo trabalho no campo agradece o carinhoso contato. As incontroláveis unhas se opõem ao movimento mútuo de limpeza e acabam por rasgar a pele, ocasionando assim um blood bath que parece não ter fim. Sua companhia enfim chega; clara como margaridas, despertando novos interesses e paixões. Cada um dos pequeninos, então, é envolto em uma espuma branca e escorregadia. Os dedos passeiam - livres como andorinhas, felizes a gorjear e entrelaçá-los ainda mais. Vem então a água fria, disposta a fazê-lo crescer e torná-lo mais vivo. A respiração fica difícil. É preciso um esforço sobrenatural para continuar em pé. A boca se abre para pegar a maior quantidade de oxigênio possível, absorvendo também, assim, água para acalmar o estomago inquieto. O ciclo continua com o ar escapando pelo nariz, e descendo pelo ralo. O corpo fica. E fica. As gotas se vêem forçadas a seguir colina abaixo. Ajudadas pela gravidade, pouco a pouco todas somem sem deixar vestígios que não o frio impotente. A cama parece distante. E ao mesmo tempo se vê tão próxima. Separados por um lençol velho, meu corpo e ela entram em transe profundo. Tudo fica mais escuro, e as nuvens desaparecem. Entro no mundo dos sonhos. Mas ele acaba rápido. É preciso ir e voltar. A volta é sempre mais rápida, mesmo com o cão no colo. Ah, o cão. Adorado por todos e odiado por dois, esse sim tem vida boa. Mas não grande atuação nesse dia, a não ser a volta no colo com vento nos olhos e o pêlo para trás. Finalmente em casa, ponho-me a escrever mais e mais, afim de, não sei. Penso que passar o tempo ? Ou quem sabe transmitir alguma mensagem a alguém... A cama volta a ser minha amiga, que me acalma e me deixa girar o quanto for necessário.