Elementais
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Elementais
Muito provavelmente, Theophanis era o mais velho entre os discípulos e amigos de Daskalos. A amizade dos dois tinha com certeza mais de quarenta anos. Ele era de Pafos, um porto a sudeste da ilha, a cento e sessenta quilômetros de Nicósia. Ali São Paulo foi preso e chicoteado por pregar o Cristianismo aos pagãos. Os habitantes de Pafos eram conhecidos como devotos adoradores de Afrodite.
Theophanis tinha a reputação de fazer curas; contava com alguns discípulos mas, ao mesmo tempo, era também membro do círculo secreto de Daskalos. Devido aos longos anos de trabalho conjunto, um forte laço de amizade unia os dois velhos. Theophanis, contaram-me, cultivava uma devoção especial por Daskalos. Ao contrário deste, que tinha uma personalidade esfuziante, Theophanis era um homem quieto, que só falava se a ele fosse dirigida a palavra. Mais tarde fiquei sa¬bendo que ele nunca se casou. Quando tinha vinte e cinco anos, ficara noivo de uma moça a quem amava loucamente e que morrera de tuberculose antes do casamento. Theophanis nunca se refizera completamente desta perda preferindo, em vez de pensar num futuro casamento, viver com a memória de sua amada. Dedicou toda sua vida a fazer curas e à sua profissão. Ocupava um alto cargo administrativo no movimento cooperativista, uma instituição tão desenvolvida e bem alicerçada na vida cipriota que servia de modelo para outras sociedades em desenvolvimento.
Enquanto conversávamos, Theophanis perguntou se Daskalos estava planejando uma viagem à Grécia, durante os meses de verão. No verão, Daskalos costumava passar várias semanas em Atenas dando "cursos intensivos" a seus discípulos de lá. Durante o resto do ano ele lhes mandava fitas. A invenção do gravador, disse Daskalos, fazia seu trabalho bem mais fácil. Ele podia, agora, alcançar um número maior de pessoas.
— Vou tirar uns dez dias de férias e gostaria de ir com você — disse 'Theophanis.
— ótimo.