El ninõ
O alarme veio dos sensores do satélite americano Noaa, o poderoso vigilante do clima do mundo. No dia 2 de março, eles registraram uma manchinha de calor no Pacífico, a cerca de 100 quilômetros da costa do Peru. Como logo ficaria provado, ali estava o primeiro sinal de que o clima, este ano, ia sair dos trilhos. Era um embrião do El Niño, que, tecnicamente, é exatamente isso: um aquecimento acima do normal das águas do Pacífico.
Em março, elas estavam só 1 ou 2 graus Celsius acima dos 24,5 que são normais. Em 15 de setembro, seis meses e meio depois, a diferença tinha chegado a 5 graus. E continuou subindo. E a manchinha no mar virou uma língua de calor, com quase 10 000 quilômetros de extensão por 2 000 de largura.
"A rapidez da evolução do El Niño foi um espanto", disse à SUPER o especialista Gilvan Oliveira, do Cptec, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, em Cachoeira Paulista. No dia 9 de junho, o Cptec fez bonito: foi a primeira instituição do mundo a matar a charada. Foi ele quem anunciou que a manchinha de calor, que logo se transformaria na grande língua, era de fato a instalação do El Niño. Era quente, líquido e certo: logo viriam as inundações, tempestades, nevascas e secas.
Se o El Niño causa tudo isso, o que é, afinal, que causa o El Niño? A melhor resposta existente parece piada: o que causa o El Niño é uma gangorra.