Educação tribal
A universidade pública está em crise e precisa ser defendida. Existe uma crise de curto prazo, que se traduz na greve das universidades paulistas, para a qual se acabará por encontrar uma solução. Mas será, por definição, uma saída precária, como foi precária a criação de uma gratificação para os professores das universidades federais em 1998. É preciso encontrar as causas mais profundas dessa crise cuja origem está na relativa perda de apoio da universidade junto à opinião pública.
A universidade não está em crise porque é pública. Países civilizados só possuem universidades públicas. Universidades privadas, que derivam lucro do ensino, são inaceitáveis nos países mais avançados. A universidade pública também não está em crise porque não esteja cumprindo sua missão, que é de ensinar, pesquisar e publicar, que é de fazer avançar o conhecimento. Poderia fazê-lo melhor se tivéssemos professores mais bem pagos e mais motivados, que se sentissem estimulados a produzir. Mas, apesar das condições adversas, continuam a existir muitos grupos de excelência nas universidades públicas brasileiras.
Um conceito equivocado
A origem da crise está no conceito de público que foi adotado pelas universidades brasileiras. Seguindo o modelo francês e alemão em vez do americano e inglês, público aqui se tomou, na linguagem corrente, sinônimo de estatal. Ora, em primeiro lugar, não é preciso ser estatal para ser público, para estar voltado para o interesse geral. Identificar público com estatal é um reducionismo imperdoável. Segundo, o ensino e a pesquisa, embora exijam financiamento do Estado, são incompatíveis com formas estatais e burocráticas de administração. O aumento do conhecimento é favorecido quando os pesquisadores e professores são selecionados e avaliados de forma competitiva – e quando, no seu trabalho, não são obrigados a obedecer a normas burocráticas estritas.
Se ignoramos esses pressupostos, o resultado será o que temos no Brasil: