Edson Gomes Silva
Uma família de retirantes se lança contra o sertão nordestino em busca de uma vida melhor na cidade grande. Tal destino, que poderia se tornar um drama de apelo emocional imediato recebeu de Graciliano Ramos (1892-1953), alagoano da cidade de Quebrangulo, o tratamento literário que o tornou o maior prosador do regionalismo da chamada Geração de 30 do modernismo brasileiro.
Seus personagens, Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos (“o menino mais novo” e “o menino mais velho”), a cachorra Baleia e um papagaio, são caracterizados como criaturas em constante embate com o meio, hostil e degradante.
Dividido em 13 capítulos independentes, que não apresentam ligação formal entre si, apenas temática, Vidas Secas (1938) chegou a ser chamado por Rubem Braga de “romance desmontável”. Assim, há capítulos intitulados Mudança, Cadeia, Festa, O Soldado Amarelo, O Mundo Coberto de Penas. Graciliano começou a conceber o livro depois de escrever Baleia, inicialmente um conto publicado em jornal, que foi bem recebido. Mas, referindo-se a esse texto, Ele escreveu à mulher: “O conto que terminei ontem é uma estopada que nenhum leitor normal aguenta”. A declaração, injusta, pode ser vista como a consequência natural de um escritor rigorosamente avesso ao sentimentalismo. Embora o capítulo esteja longe de sofrer disso, graças à forma que Graciliano emprega, a força imagética da agonia de uma cadeia e de seu sacrifício, sensibiliza o leitor. Para o crítico Álvaro Lins, em Vidas Secas o autor “se mostra mais humano, sentimental e compreensivo, acompanhando o pobre vaqueiro Fabiano e sua família com uma simpatia e uma compaixão indisfarçáveis”.