Edital ASON M
Suécia, onde arbitrários atos de violência não são comuns, ainda tornava mais absurdo, um absurdo existencialista, o meu triste fim.
Indaguei do empregado o que se passava.
Ficou mudo. Insisti na pergunta, e ele, sussurrando desamparadamente, explicou-me que o gigante estava a pensar: primeiro, que não conseguira vaga no hotel por ser sueco e estar embriagado; segundo, que nós conseguiríamos por ser americanos, norteamericanos. Ora, se meu amigo de fato era meio ruivo, seu jeitão era mineiro; quanto a mim, se fosse americano, só poderia ser filho de portugueses. .
Por outro lado, o meu inglês amarrado não deixava a menor dúvida sobre a questão de ser ou não ser americano. Só mesmo um sueco bêbado em uma madrugada de neve e vento iria supor que fôssemos americanos. Mas agora era o próprio gigante que bradava para nós com sarcasmo e ira:
− American! American!
Fiquei um pouco mais esperançoso, acreditando que ele falasse inglês, e disse-lhe, exagerando minha alegria e meu orgulho por isso, que não éramos americanos coisa nenhuma, éramos brasileiros. Não entendeu ou talvez pensou que estivéssemos covardemente a renegar a nossa pátria, voltando a vociferar, em um esforço linguístico que contraía todos os músculos de seu rosto: − American! Dollar! No like!
As palavras em si significavam pouco, mas a maneira de exprimi-las era de uma eloquência que teria destruído Catilina muito mais depressa que os discursos de Cícero. Durante alguns minutos mantivemos os dois uma polêmica oratória nestes termos: − American!
− No, Brazilian!
− American!
− Brazilian!
Essa versátil discussão ia levar-me ao abismo, quando de súbito me pareceu que a palavra
“Brazilian” havia penetrado por fim em sua testa granítica. Descontraindo os músculos, o gigante me perguntou: − Brazil?! No American?