Economia
PLANEJAMENTO ECONÔMICO E CRISE POLÍTICA:
DO ESGOTAMENTO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO AO MALOGRO DOS PROGRAMAS DE ESTABILIZAÇÃO
Ricardo Silva
Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO
Este artigo tem como objetivo reconstruir a trajetória dos programas de estabilização da economia elaborados no contexto da crise do início dos anos sessenta no Brasil. Na conjuntura compreendida entre o final dos anos cinqüenta e a queda do governo João Goulart (abril de 1964), ao menos três programas mais ambiciosos de estabilização monetária foram tentados pelos governos do período, todos sem êxito. Iremos nos ater nas reações políticas dos diferentes atores, naquela conjuntura crítica, em relação ao Plano de Estabilização Monetária (1958-1959) do governo Kubitschek, à Reforma Cambial (1961) do governo Quadros e, com mais detalhe, ao Plano Trienal (1963-1965) do governo Goulart. Ver-se-á que tais reações decorrem da dissolução do consenso ideológico em torno das políticas desenvolvimentistas e da negativa dos principais grupos sócio-econômicos à submissão aos “sacrifícios” impostos pelos planejadores para a consecução da estabilidade monetária. PALAVRAS-CHAVE: planejamento econômico; políticas de estabilização; crise política; crise institucional; desenvolvimento; estabilidade; anos sessenta.
I. INTRODUÇÃO No final dos anos cinqüenta, quando o Brasil ainda experimentava um intenso processo de crescimento industrial embalado pelos projetos governamentais da década, a política econômica oficial passou a apresentar uma importante inflexão. Os problemas relacionados à estabilidade monetária interna e ao desequilíbrio das contas externas passam a assumir a primazia nas preocupações dos planejadores e gestores da política econômica, em substituição à orientação desenvolvimentista e industrializante predominante até então. Tal inflexão evidenciou-se nas sucessivas tentativas de planejamento econômico realizadas entre o