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O Artesão da Palavra
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Este blog não pretende ser um tratado do nosso vernáculo. Destina-se àqueles que querem aprender a escrever corretamente. Lapidar as palavras e transformá-las em verdadeiras jóias (bem dispostas no texto, de forma a traduzir o pensamento e publicar as idéias) é o que busca todo o artesão da palavra.
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE MAIO DE 2010
Análise do Soneto de Camões
Que se entende por literatura?

Tomemos o conhecido soneto camoniano:

Sete anos de pastor, Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

Que temos nestes versos? Uma excelente síntese narrativo-interpretativa do episódio bíblico onde se conta a história de Jacó e Raquel; de como Jacó serviu durante sete anos a Labão, buscando fazer jus à mão de Raquel, para, ao cabo do tempo previsto, o pai lhe dar a outra filha; vemos como Jacó se propõe servir outros sete anos para chegar ao que pretende.
Mas será nisto apenas que consiste a poesia destas palavras assim agrupadas? A história de amor de Jacó? O problema do pai, desejoso de casar as filhas? Ou a valorização do trabalho de Jacó?

Parece-nos que não. O que se vislumbra - e nos deslumbra - neste poema é o canto do Amor; o Amor em toda a sua plenitude, amor-doação, que se compraz na fruição mesma da sensação amorosa, no sentir-se amado e amar, independendo de condições materais de espaço e tempo. Uma realidade que o poeta conscientemente deforma, na sua visão do mundo, atribuindo a Jacó atitudes espirituais que são muito mais dele, poeta, preocupado com o exame e as repercussões

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