No final do século XIX, Durkheim (1982) publicou um livro inteiramente dedicado ao suicídio, que se revelou um esforço bem sucedido de relacionar o suicídio às condições sociais. Ao ultrapassar o foco no indivíduo, mais característico da psicologia, filosofia, psiquiatria e neurologia, para a sociedade, a obra teve o mérito de mostrar a importância de se considerar o suicídio como fato social. Sua construção repousa na crença de que o ato individual de matar-se a si mesmo é antes de tudo um ato social. Apesar de essa abordagem ser sociológica, isso não significa necessariamente eliminar as variáveis individuais e o papel ativo que cada indivíduo tem na sociedade. Durkheim, aliás, relacionou o suicídio ao tipo de vínculo social, o que, de certo modo, coloca em destaque o papel ativo de cada um na relação com a sociedade. Dois fenômenos seriam responsáveis pela natureza do vínculo social: a integração social, elos que ligam os indivíduos uns aos outros; e a regulação social, normas e regras sociais que regulam os comportamentos das pessoas. O equilíbrio entre integração e regulação social estaria associado à maior ou menor incidência de suicídios. Três tipos de suicídios seriam possíveis, na visão de Durkheim: o suicídio egoísta, fruto da individuação excessiva, resultante de frágeis laços que unem o indivíduo aos demais seres sociais; o suicídio altruísta, resultante de forte vínculo social que faz com que o indivíduo perca a sua individualidade, o que justificaria os ataques terroristas suicidas, visto que o potencial suicida acredita que sua morte trará benefício para os demais; e o suicídio anômico, resultante da fraca regulação social, marcado pela divergência entre os valores pessoais e os sociais. Em contraposição a esse último tipo de suicídio, haveria o fatalista, que seria decorrente da percepção e dos sentimentos de excessiva regulação social. Foi a modalidade de suicídio a que Durkheim dedicou menos atenção, talvez por acreditar na importância do controle