Dos EUA a Paris: a peregrinação contínua
Sábado, 7 de dezembro de 1996.
Dos EUA a Paris: a peregrinação contínua
A vida dos artistas e intelectuais americanos na França é o tema de ‘The Continual Pilgrimage’
Sérgio Augusto
Thomas Jefferson achava que todo homem tem duas pátrias, aquelas em que nasceu e a França; vale dizer Paris, onde a partir de 1776 os conterrâneos de Jefferson mantiveram uma ativa comunidade de exilados. Nem todos se abrigaram nas duas margens do Sena por motivos políticos. A maioria aliás, foi simplesmente estudar, pintar, escrever, compor, flanar, namorar – e aprender a viver como em nenhum outro lugar parecia possível viver: em completa liberdade (pessoal e artística) e com alguns trocados no bolso. O que em outras metrópoles era humilhante (andar teso e viver só de poesia, por exemplo), em Paris era tradição, era chique.
Os primeiros norte-americanos chegaram a Paris quase dois séculos antes de Guerry Mulligan, o emblemático pintor de Gershwin e Vicent Minnelli, expor seus quadros nos muros de Montmartre. Eram diplomatas, enviados pelos Estados Unidos da América antes mesmo de sua independência ser oficialmente reconhecida pela coroa inglesa. Em seguida, foi a vez de Benjamin Franklin e Jefferson, que falavam francês e abafaram em Versalhes. E a peregrinação teve inicio, atravessando décadas e atingindo o apogeu nos anos 20 e 30 deste século quando, ao redor de Gertrude Stein, Sylvia Beach, Ernest Hemingway, F. Scoot Fitzgerald, Ezra Pound, Man Ray, Henry Miller, Cole Poter e outros menos votados, Paris tornou-se uma festa ambulante e permanente. Vez por outra bancada pelos milionários George e Sara Murphy, para quem viver bem era a melhor vingança.
Muito se sabe sobre a Paris da Geração Perdida, cujo folclore parece inesgotável, apesar dos esforços para esgotá-la de livros como Americans in Paris, de George Wickes (Da Capo, 1969), Sylvia Beach and The Lost Generation, de Noel Riley Fitch (Norton, 1985), sem contar as