Do sujeito

2473 palavras 10 páginas
Transferência e desejo do analista

Originalmente a transferência é descoberta por Freud como um fenômeno espontâneo que, ao ser vinculado ao desenvolvimento da experiência psicanalítica, assume o estatuto de um conceito. Seguindo os passos de Freud, Lacan vai sublinhar que este conceito, pensado como o próprio conceito de análise, ganha todo o seu valor pela função que adquire na práxis psicanalítica. Para melhor delimitá-lo, formula a noção de sujeito suposto saber (S.s.S.), inédita em Freud. No Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964/ 1979), afirma que o conceito de transferência “é determinado pela função que tem numa práxis” (p.120) e “nenhuma práxis mais do que a análise, é orientada para aquilo que, no coração da experiência, é o núcleo do real” (p.55).
Essas duas afirmações permitem pensar a direção que dará à discussão da transferência, como mola mestra da análise, e à posição do psicanalista frente a esse instrumento, na condução de uma experiência analítica. A ênfase no real como o vetor que orienta esta práxis, nos chama a atenção para a importância que dará à noção de desejo do analista, como função essencial em torno da qual gira o movimento da análise. Em suas palavras, “... o desejo é o eixo, o pivô, o cabo, o martelo, graças ao qual se aplica o elemento-força, a inércia, que há por trás do que se formula primeiro, no discurso do paciente, como demanda, isto é, a transferência. O eixo, o ponto comum desse duplo machado, é o desejo do analista, que eu designo aqui como função essencial” (Ibidem, p.222).
Assim como a noção de sujeito suposto saber não aparece em Freud, ainda que seus indícios possam ser buscados em textos freudianos, não há, em Freud, uma teoria do desejo do analista. São contribuições de Lacan, ao refletir sobre a teoria e a prática da psicanálise, em grande parte estimuladas pelos desenvolvimentos propostos pelos analistas pós-freudianos em relação à técnica psicanalítica. A crítica que faz à

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