Do amor e outros demônios
Gabriel García Márquez http://groups.google.com/group/digitalsource Orelha
Há um século convertido em hospital, o convento histórico de Santa Clara ia agora ser vendido para construírem no local um hotel de cinco estrelas. Estamos em 26 de outubro de
1949. E Gabriel García Márquez, um jovem repórter, é designado para ver de perto o trabalho de remoção das criptas funerárias da capela.
O que mais impressiona este colombiano de Aracataca ao chegar ao convento das clarissas é o túmulo de uma marquesa menina, cuja imensa cabeleira lhe faz lembrar as lendas contadas por sua avó materna.
Havia uma marquesinha, venerada no Caribe por seus milagres, que foi mordida por um cachorro e acabou morrendo de raiva. Essa marquesinha possuía uma "cabeleira que se arrastava como a cauda de um vestido de noiva".
Aquela marquesinha de sua infância seria a mesma ali enterrada? "A idéia de que aquele túmulo pudesse ser dela foi a minha notícia do dia, e a origem deste livro."
Do amor e outros demônios vem assim de uma inspiração de quase meio século. Mas sua história vai além.
García Márquez viaja até fins do século XVIII, em pleno vice-reinado da Colômbia, esta ainda colônia da Espanha, para compor uma história de amor, cercada de mistério, sortilégio e feitiçaria, culminando num processo instaurado pela inquisição.
Mais uma vez um tema eternizado na literatura mundial um dos desejos que elege as paixões e atinge as raízes mais profundas do ser humano: o amor.
Com um misto de religiosidade cristã e rituais africanos, a narrativa poética de García Márquez revela os laços que envolvem uma adolescente, filha única de um marquês, crescida no convívio de escravos e orixás, e um padre espanhol, incumbido de exorcizar os demônios que se acredita terem possuído essa meninazinha, cujos cabelos jamais foram cortados em promessa até a noite de seu casamento.
No cenário opressivo da sociedade colonial, do convento fantasmagórico, do